#9
Éclogas X

(...)

Não cantamos aos surdos: nossos versos são repetidos pelo eco dos bosques. Em que matas ou em que vales detidas estavas, cruéis Náiades, quando por um amor indigno Gallus morria? Pois não eram os cumes do Párnaso, nem os de Pindo, ou da fonte de Aganipe as frescas margens que vos detiveram.

Por Gallus choram os mesmos loureiros, choram também os humildes tamarindos. Os pinheiros também do monte Ménalo, e do Liceu frio os altos penedos não cessam de chorar, vendo-o deitado debaixo de um rochedo solitário.

(...)

Todos perguntaram: "De onde te veio esse amor tão violento?"

Veio Apolo e disse: "Gallus, por que enlouqueces? Licóride, objeto do teu carinho, seguiu um outro através das neves e dos eriçados acampamentos."

Veio também Silvano, com o ornamento agreste da cabeça, brandindo varas floridas e grandes lírios.

Veio Pã, deus da Arcádia; nós mesmos vimos seu rosto pintado com engos e vermilhão: "Haverá, porventura, um limite?", disse, "o Amor não cura tais coisas, nem o cruel Amor se sacia de lágrimas, nem os prados de ribeiros, nem as abelhas de codesso, nem as cabras de folhagem".

Contudo, diz Gallus com ar triste: Pastores da Arcádia, nos vossos montes farei ressoar as minhas desgraças. Vós sois, Árcades, doutores no canto. Oh! Quão docemente na sepultura descançarão as minhas frias cinzas se vossas flautas algum dia dignarem a cantar os meus amores!

(...)

Entretanto, em companhia das Ninfas do monte Ménalo, andarei a caça dos ferozes javalis: nenhum frio fará com que meus cães cerquem os arvoredos do monte Partênio. Parece-me que por despenhadeiros já atravesso e por matas ressonantes: gosto, a maneira dos Parthos, arremessar setas agudas como se fosse do meu furor a medicina.

Ou, como se Cupido, deus do Amor, tivesse pena dos males humanos. Para mim, já não são mais de meu gosto nem as Hamadríades, nem os versos me contentam. Adeus, florestas, adeus.

Minha paixão não sabe sucumbir. O Amor não vence a si próprio.

Ainda mesmo que no tempo frio do aquoso inverno eu bebesse as geladas águas do Hebro, ou fosse pelo regelo de Cidônia, frio país da Trácia. Ou, no verão, quando o calor ardente da tórrida zona queima a cortiça dos altos olmos no signo de Câncer, conduzisse as ovelhas da Etiópia.

O Amor conquista tudo, ao Amor nos rendamos.

(...)
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39-38 a.C., Eclogae, Virgílio (70 a.C. - 19 a.C.)
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